Anais da 30aRBA
ISBN n° 978-85-87942-42-5

Políticas da Antropologia: Ética, Diversidade e Conflitos 

A Diretoria Políticas da Antropologia (2015-2016) tem a satisfação de apresentar ao público leitor os Anais da 30ª Reunião Brasileira de Antropologia (RBA), realizado dos dias 3 a 6 de agosto de 2016, em João Pessoa, nas dependências da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), poucos dias antes de alguns dos atos decisivos no processo de impeachment de Dilma Vana Rousseff como Presidenta eleita do Brasil.

Toda a preparação da 30ª RBA esteve marcada pela conjuntura tensa, e pela indefinição da administração pública quanto aos recursos disponíveis para todas as áreas, em especial para a educação superior, que como todos sabemos, são vitais para a realização de reuniões e congressos dessas proporções. Apenas poucos dias antes do início da reunião tivemos confirmados os financiamentos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), de vital importância para o evento. O dinheiro em si foi liberado muito tempo depois. Os recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) sequer foram liberados até o momento. Um pequeno recurso nos foi repassado agora pela Embaixada da Noruega, em ressarcimento de parte da passagem aérea de Thomas Hylland Eriksen para o Brasil.

Tínhamos como certos apenas os recursos das inscrições, muitas das quais pagas faltando poucos dias para o início da 30ª RBA, bastante diminuídos pelos cortes das verbas usualmente destinadas ao sistema brasileiro de pós-graduação, que tiveram sempre um papel importante em colaborar para a participação de estudantes e docentes em eventos científicos. Das agências de fomento estavam disponíveis apenas os recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), destinados apenas aos pesquisadores paulistas.

Se em parte tal sistemática de liberar os recursos “em cima da hora” tem sido comum ao repasse das agências às organizações de eventos, a conjuntura política nos colocou diante de um considerável grau de incerteza. Para realizar a 30ª RBA com a segurança de que não conduziríamos a Associação Brasileira de Antropologia à falência, e não utilizaríamos quaisquer recursos destinados a outras finalidades para a reunião, foi necessário alterar significativamente as práticas até aquele momento vigentes, em especial as que foram usuais no período que se estendeu do pós-redemocratização, mas sobretudo desde a 24ª RBA, realizada em junho de 2004, até a 29ª, realizada em 2014. Nesse quadro, o apoio da UFPB e o magnífico trabalho da comissão Organizadora Local foram essenciais. 

Mas foi diante de tal da adversidade que mais uma vez a pujança e o dinamismo da Antropologia produzida no Brasil se evidenciaram. Participaram da Reunião 1812 inscritos, dos quais 431 estudantes de graduação (11 associados aspirantes, e 420 não associados), 727 alunos de pós-graduação (sendo 158 associados à ABA e outros 569 não associados), e 654 profissionais (sendo 429 associados, 15 integrantes de associações do World Council of Anthropological Associations, e 210 não associados), provenientes de quase todos os estados no Brasil (à exceção do Acre) e do estrangeiro.

Das atividades aprovadas e programadas, apenas uma mesa não foi realizada. Ainda que com menor frequência, dadas as proporções da crise econômica (além de política e moral)  induzida que se estendeu e se estende pela sociedade brasileira, todas as demais atividades desenvolveram-se com proficuidade. Foram 2 conferências magistrais, 1 dueto, 1 conversa com o autor, 2 fóruns (visando abordar aspectos diferenciados da conjuntura contemporânea), 10 simpósios especiais, 40 mesas redondas, 64 grupos de trabalho, 4 minicursos, 9 oficinas, além de 2 mostras de vídeo, diversas ocupações artísticas e 2 exposições. 

Consideramos que a reunião mais uma vez cumpriu seus objetivos e, sobretudo, que a ideia de pensar as políticas da Antropologia (para dentro e para fora do campo disciplinar) era mais que oportuna e bem escolhida, ainda que concebida quando a conjuntura sob a qual vivemos parecia inconcebível. A 30ª RBA foi assim um espaço de interlocução dinâmico em que as questões do presente, espelhados pela preocupação que nos levou a denominar nossa diretoria de Políticas da Antropologia, se fizeram ouvir junto a temas mais tradicionais ou contemporâneos, ainda que distanciados da temática principal, todos eles tensionados pela conjuntura histórica que atravessamos. 

Com a publicação dos presentes Anais boa parte da produção escrita gerada na 30ª RBA se torna disponível, seja sob a forma de textos escritos seja sob a forma de links. Esperamos que também assim o evento tenha seus objetivos plenamente cumpridos, agora transformado num documento de cunho histórico de importante valor face aos delineamentos do futuro imediato.

Boa leitura.

Brasília, 9 de novembro de 2016
Diretoria Políticas da Antropologia 
ABA (2015-2016)