Relatório de atividades do Comitê de Antropólogas/os Negras/os / Gestão 2021-2022
Nota do Comitê de Antropólogas/os Negras/os da ABA em apoio à professora Luciana Dias – Universidade Federal de Goiás
Uma das nossas foi atingida em sua dignidade e plena humanidade em um ato de violência racial e misógina. Este comitê vem a público manifestar seu apoio incondicional à professora Luciana Dias, coordenadora da 1ª gestão do Comitê de Antropólogas/os Negras/os da Associação Brasileira de Antropologia – ABA.
Nosso apoio ampara-se em entendimentos já expressos em nossa carta de apresentação lançada em 2019. São eles: a noção de que a presença docente negra ainda é um desafio a ser superado, bem como o impacto na produção de conhecimento de forma mais plural e visível; A contribuição deste Comitê para a alteração desse quadro articula-se a uma atuação científica diversa, inclusiva e comprometida com valores caros ao campo da Antropologia, tais como ética, defesa de grupos sociais historicamente marginalizados, compromisso com a pauta de direitos humanos, centralidade na luta antirracista, consolidação da democracia, da educação pública e da autonomia universitária.
Diante disso, reiteramos nosso repúdio contra quem tenta calar as vozes e extinguir oportunidades de protagonismo feminino e negro como é o caso da chapa “Dialoga FCS” integrada pela professora Luciana Dias e que concorre à direção da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás. Sendo assim e respondendo ao questionamento racista dirigido à candidata, sim, ela é capaz. Sim, nós somos capazes de ocupar todos os espaços que quisermos.
Brasília/DF, 06 de agosto de 2021.
Associação Brasileira de Antropologia ABA e seu Comitê de Antropólogas/os Negras/os
Leia aqui a nota em PDF.
Relatório de atividades Comitê de Antropólogas/os Negras/os / Gestão 2019-2020
Nota da ABA sobre o assassinato de João Alberto Silveira Freitas
Através de seu Comitê de Antropólogas/os Negras/os e com apoio da Comissão de Direitos Humanos, do Comitê Cidadania, Violência e Gestão Estatal e do Comitê de Estudos Africanos, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) vem se manifestar publicamente sobre o assassinato de João Alberto Silveira Freitas e pedir enérgicas providências das autoridades brasileiras no sentido de definir culpas e responsabilidades.
A cidade de Porto Alegre/RS, possui um histórico marcante na luta antirracista e por Direitos Humanos. A capital gaúcha foi berço do 20 de Novembro, data consagrada no Brasil como o “Dia da Consciência Negra”. Foi lá que, em 1971, o Grupo Palmares, formado por intelectuais e militantes negras e negros, dentre os quais destacou-se a figura do poeta e professor Oliveira Silveira (1941-2009), demandou o protagonismo negro como referência histórica nacional. A cidade também foi palco, bem como potência crítica e criativa, durante os anos em que sediou o Fórum Social Mundial (2001-2005). Naquele período, movimentos sociais diversos, nacionais e internacionais cunharam o slogan “Um outro mundo é possível”. Nesta última década, Porto Alegre foi reconhecida pelo Alto Comissariado das Nações Unidas (ACNUR) como cidade solidária de acolhimento a refugiados.
Foi na sequência desses esperançosos eventos que, em 2019, durante a XIII Reunião de Antropologia do Mercosul, realizada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, teve início a criação do Comitê de Antropólogas/s Negras/os da ABA, momento histórico para a antropologia brasileira. O Comitê visa uma atuação científica diversa, inclusiva e comprometida com valores caros ao campo da antropologia, tais como ética, defesa de grupos sociais historicamente marginalizados, compromisso com a pauta de direitos humanos, centralidade na luta antirracista, consolidação da democracia, da educação pública e da autonomia universitária. Essa atuação encontrou eco, neste ano de 2020, durante a 32a Reunião Brasileira de Antropologia pelo alinhamento teórico-político com o tema proposto: saberes insubmissos, diferenças e direitos. Nessa linha, também incorporamos a Comissão deDireitos Humanos da ABA, atuante desde 1998, em prol da defesa dos direitoshumanos, em especial dos grupos vulnerabilizados pelas políticas de Estadoresultantes na negação de direitos e cidadania, nessa manifestação como formade somar esforços e vozes contra as diversas formas de violência física emoral.
Por tudo isso, não podemos nos calar ou emitir apenas mais uma nota de repúdio diante de um 20 de Novembro, em que a cidade de Porto Alegre amanheceu ensanguentada. E esse sangue, sintomático da violação de Direitos Humanos em que “vidas negras não importam”, era de João Alberto Silveira Freitas. Um homem negro assassinado em espaço público por forças de segurança de um estabelecimento comercial, especificamente no supermercado da empresaCarrefour. Para que o nome de João Alberto não se some ao nome de Júlio César de Mello Pinto, assassinado nos mesmos moldes em maio de 1987, e assim tenhamos mais um “caso do homem errado”, entre osmilhares de assassinatos de pessoas negras no nosso país, é que não lavamos nossas mãos e pedimos paz, mas erguemos nossas mãos e exigimos justiça. Por isso, exigimos que as autoridades brasileiras, encarregadas de investigar o caso, o façam com a maior eficiência, rapidez e transparência possíveis, contribuindo não apenas para punir os culpados da morte de João Alberto, mas também para que se discuta a responsabilidade social e coletiva implicadas no racismo estrutural com suas inaceitáveis consequências.
Brasília, 24 de novembro de 2020.
Associação Brasileira de Antropologia; seu Comitê de Antropólogas/os Negras/os; sua Comissão de Direitos Humanos; seu Comitê Cidadania, Violência e Gestão Estatal; e seu Comitê de Estudos Africanos
Leia aqui a nota em PDF.
Manifesto de Repúdio ao conteúdo divulgado pela Fundação Cultural Palmares no dia 13 de maio de 2020
Nós, integrantes do Comitê de Antropólogas/os Negras/os da Associação Brasileira de Antropologia, manifestamos publicamente total repúdio ao conteúdo publicado pela Fundação Cultural Palmares em sua página e também em suas redes sociais, neste 13 de maio. O conteúdo ali expresso desconsidera, ignora e silencia violentamente toda luta social e política da população negra, ao longo de mais cinco séculos na sociedade brasileira. O conteúdo ainda lembra e reverencia uma figura, uma princesa imperial, do passado colonial e escravista, em uma tentativa de glorificar um ato – a abolição da escravatura – que não foi mérito e nem benevolência do estado brasileiro, mas resultado de resistência negra. Não bastasse, o conteúdo tenta deslegitimar e desmoralizar Zumbi dos Palmares, liderança negra legitimamente reconhecida por sua luta contra a escravidão. Importante recordar que o Brasil foi o último país do mundo a abolir o sistema escravocrata e fundamental é o entendimento de que a abolição da escravidão somente ocorreu em decorrência das pressões e das lutas abolicionistas que foram perpetradas por pessoas negras. Há que se ressaltar também a importância das pressões econômicas internacionais para que a abolição acontecesse neste país. Esse feito tardio é consequência das profundas e perversas desigualdades raciais, políticas e econômicas entre pessoas negras e brancas, o que caracteriza o país desde o período colonial. Além de tardia, a abolição é também incompleta, isto porque não houve previsão, ou esforços, de nenhuma forma de reparação, tampouco de integração cidadã da população negra na sociedade brasileira, após o fim do sistema escravocrata. O que se verificou, de fato, após sancionada a Lei Áurea, em 1888, foi a perpetuação de um sistema cruelmente desigual e racista. Vale a pena asseverar que o racismo no Brasil se efetiva, sobretudo, por tentativas de distorção histórica e também pela lógica do desprezo. Desprezo que está sendo mais uma vez acionado politicamente, por meio do conteúdo publicado pela Fundação Cultural Palmares neste 13 de maio, que não reconhece as pessoas, as lideranças, as heroínas e os heróis que construíram e sustentaram esta nação que hoje chamamos de Brasil.
Brasília, 14 de maio de 2020.
Comitê de Antropólogas/os Negras/os da Associação Brasileira de Antropologia – ABA
Leia aqui o manifesto em PDF.