Morre Dona Sebastiana Henriqueta Camila de Lima, que aos 89 anos de idade não resistiu às agruras do tempo. Neta de Dona Camila, escrava rememorada no livro de memórias do Sr Armando de Moraes Breves (Reino da Marambaia), Dona Sebastiana descendia de escravos que ali permaneceram após a falência da fazenda do Comendador Breves, grande cafeicultor do século XIX, que deixara de “boca” parte de suas terras para seus antigos escravos.
Dona Sebastiana morre sem ver as portas de sua casa reabertas pela Justiça, pois teve sua casa desapropriada, após ação de Reintegração de Posse proposta pela União Federal, a pedido da Marinha de Guerra do Brasil, administradora da Ilha da Marambaia. Ações que impediram também diversas outras famílias da Marambaia de permanecerem em suas terras.
Tal litígio impediu o acesso de Dona Sebastiana à casa construída por seu marido, o Sr Bertolino, neto do antigo escravo da família Breves, o sr Estanislau. Justiça que foi feita sem contraditório, pois sua ação fora julgada a revelia. Dona Sebastiana foi injustamente impedida de ter acesso aos seus sonhos, suas memórias, sua história. Infelizmente, tal injustiça fez também morrer uma parte da esperança de centenas de famílias que esperam da Justiça apenas a certeza de poder viver, mesmo que de maneira humilde, em suas terras.
Morre Dona Sebastiana, porém ficam as lembranças dessa senhora que ousou sonhar humildemente em ser, ter e estar. Morre Dona Sebastiana, porém ficam sua luta, luz e determinação. Vá em paz !
Fábio Reis Mota