Heloisa Fénelon (1927-1996)

 

Maria Heloisa Fénelon Costa nasceu em 14 de maio de 1927, em Mato Grosso do Sul. Gradua-se em pintura, em 1953, pela Escola Nacional de Belas Artes, da antiga Universidade do Brasil. Em 1956, apresenta-se ao Curso de Aperfeiçoamento de Antropologia Cultural do Museu do Índio, onde obtém bolsa por concurso. Contratada em 1958 como naturalista do Museu Nacional, é enquadrada como antropóloga daquela instituição em 1960. Em 62 e 63, faz estágios no Museu do Homem e no Museu de Artes e Tradições Populares, em Paris. A partir de 64 é a responsável pelo Setor de Etnografia e Etnologia no Museu Nacional, onde, no ano seguinte, passa a pesquisadora em regime de dedicação exclusiva. Na década de 60 divulga a temática da arte indígena, em especial suas pesquisas sobre os índios Karajá.

Alcança a livre-docência em História da Arte em 1974, por concurso realizado na Escola de Belas Artes da UFRJ, onde obtém também o título de doutor. É desta data a obra A arte e o artista na sociedade Karajá, publicada em 1978 pela FUNAI. Em 1986, quando se apresenta à vaga de professor titular em Antropologia Social e Etnologia do Museu Nacional, defende a tese O mundo dos Mehináku e suas representações visuais.

Na direção do setor de Etnografia e Etnologia do Museu, coordenou projetos que implicaram em atividades de curadoria e em pesquisas de gabinete e campo nas regiões do Alto Xingu, Araguaia, Alto Solimões, Rio Negro e no estado do Rio de Janeiro. Dentre estes, destacam-se Etnografia e emprego social da tecnologia (1977-1981) e Emprego da tecnologia em sociedades tribais e populações regionais (1981-1988).

Embora especialista em arte indígena e formadora de uma geração de pesquisadores, Heloisa Fénelon nunca se afastou da compreensão de sua temática preferencial no quadro da complexidade dos estudos da arte e do simbolismo, sua via para entender o humano. Ao exercício do desenho e da gravura, desde a formação universitária, somou contribuições a propósito das artes nas metrópoles: o projeto O espaço do candomblé (1982-1988); contribuições às reuniões da ABA, como o estudo das gameleiras nos terreiros de Angola (1994), "A espacialidade em Kafka" (1990), "Siron Franco: o monumento às nações indígenas"(1994), "Pesquisa iconográfica e interdisciplinariedade" (1988), "Antro-estética do surfista" (1992). Preocupou-se ainda em construir pontes entre as sociedades complexas e os grupos indígenas em textos como "O kitsch na arte tribal" (Cultura 1, 1971), "Há lazer entre os Karajá?" (Arte e educação, 4, 1975), entre outros.

Em 1995 transferiu-se para o Japão onde residiu por um ano como professora visitante da Universidade de Osaka. Em fins de 1996, seus colegas e discípulos foram surpreendidos pela notícia de seu falecimento. Entregando-se a novos desafios, Heloisa parecia estar no auge da carreira. Que seu exemplo de dedicação no jogo de espelhos entre nós e os outros, que é a Antropologia, permaneça presente no trabalho de seus colegas do Museu nacional e no esforço dos estudiosos das artes étnicas no Brasil.

 

Hélio Vianna - Coleções etnográficas do Museu Nacional





Boletim da ABA # 27