Comissão de
Assuntos da Terra

MEMBROS INTEGRANTES DA COMISSÃO:

MOACIR GRACINDO SOARES PALMEIRA / MN-UFRJ (presidente)
GIRALDA SEYFERTH / MN - UFRJ
JOÃO PACHECO DE OLIVEIRA / MN - UFRJ
BEATRIA MARIA ALÁSIA DE HEREDIA / IFCS - UFRJ
LUIZ ANTONIO MACHADO DA SILVA / IFCS - UFRJ
ELIANE CANTARINO O’DWYER / IFCH-UFF
ELLEN FENSTERSEIFER WOORTMANN / ICH - UNB
MARIA STELLA DE PAULA ANDRADE / IFCH - UFMA
ARLENE RENK / ICH - UNOESC
ALFREDO WAGNER BERNO DE ALMEIDA / IFCH – UFMA


Contrariando as previsões de muitos cientistas sociais, que acreditavam que o avanço tecnológico iria relegá-la a um plano secundário nessa virada de século, a terra permanece ocupando um lugar importante nas visões de mundo de grupos e sociedades. As disputas políticas e simbólicas em torno dela ampliaram-se. O reconhecimento de territórios tem sido uma peça-chave nas lutas dos povos indígenas, nas últimas décadas, pela garantia de suas identidades. Diferentes tipos de campesinato e grupos de desempregados urbanos, com passado rural ou não, têm visto na terra uma espécie de saída para seus problemas mais imediatos e alguns dentre eles têm nela fundado suas utopias, gerando movimentos sociais importantes. Nas grandes cidades, a questão da moradia tem estado associada à disputa por terrenos urbanos. O movimento secular das populações do campo em direção à cidade tem sido invertido em alguns países, paralelamente a uma redefinição do que seja urbano e rural. Concepções mais abrangentes de terra estão na base de diferentes movimentos ecológicos, participantes ativos das disputas ideológicas mais recentes.

Aos antropólogos deve-se uma parte do mérito pelo reconhecimento social desses processos que durante muito tempo eram invisíveis ou simplesmente impensáveis para os que não estavam ou não se percebiam envolvidos por esses processos. E isso tem a ver com o modus operandi da pesquisa antropológica, que, na sua variedade, estabelece como básico - sendo aí inseparáveis o instrumental e o ético - o respeito às representações sociais das populações estudadas.

O modo como a terra tem se imposto como tema aos antropólogos questiona divisões tradicionais em nossa disciplina, como aquela que contrapõe estudos de sociedades "primitivas", "camponesas" e "urbanas" e estimula o debate em torno de temas e recortes disciplinares diferentes. O respeito às concepções, modos de vida e projetos das populações que estudamos, base das "trocas" que com elas estabelecemos, impõe-nos a necessidade de refletirmos não apenas sobre o que a nossa curiosidade intelectual ou as discussões mais propriamente disciplinares nos sugerem, mas também sobre aquilo que essas populações consideram relevante ser estudado, o que se tem mostrado positivo do ponto de vista de alargamento das fronteiras do conhecimento antropológico. Mas, sobretudo, exige-nos levar a sério as lutas dessas populações, entendê-las e com elas nos solidarizarmos, a cada vez que a manutenção de sua maneira de viver ou um seu projeto de vida, compatível com as suas próprias tradições culturais e com valores universais como a liberdade e a igualdade, estejam ameaçados.

É nessas duas frentes que a Comissão de Assuntos da Terra se propõe a atuar.


Boletim da ABA # 30