Etapas de aperfeiçoamento do Sistema de Informações Bibliográficas de Teses e Dissertações de Antropologia.

 

Dados preliminares da produção acadêmica brasileira entre 1945 e 1999

Álvaro de Oliveira D'Antona

Antropólogo.

Gerente da Home Page da ABA

 

A importância da manutenção sistemática das informações sobre os trabalhos produzidos pela comunidade acadêmica, em qualquer área, é inegável. Bancos com dados dessa natureza constituem-se em importantes fontes de pesquisa, não só para a reconstituição da história de disciplinas mas também por facilitar buscas bibliográficas. Acreditando nisso, em vários momentos da história da Associação Brasileira de Antropologia - ABA - esta se ocupou da tarefa de compilação de informações sobre as dissertações e teses em antropologia defendidas por pesquisadores brasileiros.

Apesar dos esforços, o acervo acumulado em catálogos de periodicidade irregular não está isento de problemas. Dentro de um mesmo catálogo falta uniformidade no conteúdo de cada obra mencionada; entre os catálogos falta padronização das informações disponíveis; há divergências entre os dados contidos em uma e outra produção; o conjunto dos volumes não cobre plenamente a produção antropológica nacional. Há, ainda, o relativo incômodo de se ter que recorrer a vários volumes para a realização de pesquisas bibliográficas consistentes, além das dificuldades de atualizações e correções de dados já publicados em papel.

Estas constatações não condenam o trabalho passado. Servem, de fato, para enaltecer esses esforços de sistematização em momentos em que a tecnologia disponível não era tão favorável para a construção de bancos de dados, e para destacar que a tarefa é grande demais para ser realizada por pequenos grupos de pessoas, em momentos específicos. A sistematização é tanto melhor quanto maior for o número de colaboradores; o grau de atualização do acervo, em qualquer momento, depende da continuidade do processo de atualização e retificação dos dados. Portanto, o trabalho pressupõe a participação dos Programas de Antropologia, dos Professores Orientadores e, é claro, daqueles que produziram as teses e dissertações _ os maiores beneficiados com a existência da sistematização.

Aproveitando as facilidades da informática, no início dos anos 90, a ABA criou um banco de dados com registros bibliográficos da produção acadêmica nacional. Antes disso, os volumes impressos possibilitavam a consulta por ano de defesa e/ou programa; com a informatização, ampliaram-se as possibilidades de buscas para quaisquer componentes do banco, tais como: autor, assunto, orientador... Mas os problemas permaneciam: a divulgação ainda era restrita, inexistia um processo regular de alimentação dos dados, e os registros nem sempre eram consistentes em relação às antigas publicações.

A partir de 1996, a ABA passou a proceder de forma diferente. Ao invés de pesquisar a produção acadêmica dos últimos anos para lançá-la como mais um volume impresso, a Associação preocupou-se com a criação de uma base de dados que pudesse cobrir toda a produção pretérita de forma "homogênea" para, a partir desse ponto, criar formas de consulta e atualização que garantissem a manutenção e a utilização do acervo.

Um novo banco de dados foi criado. Nele foram reunidos os conteúdos das antigas publicações da ABA e incorporados os registros de bancos de dados já existentes _ fornecidos por Cristina Rezende Rubin e Jayme Moraes Aranha Filho. Eram, na medida do possível, os dados disponíveis por um processo de "aperfeiçoamenteo" que consistiu de:

· padronização dos campos / informações (nome do autor, título do trabalho, instituição, nível, número de páginas, ano do ingresso, ano da defesa, orientador, banca, palavras-chaves, resumo, área geográfica/etnia, e-mail);

· padronização dos nomes de autores, orientadores (evitaram-se as abreviações e omissões de sobrenomes) e instituições;

· eliminação de divergências e/ou duplicidades;

· inclusão de palavras-chaves, resumos e outras informações disponíveis ora em uma publicação ora em outra.

Como resultado imediato, conseguimos um cadastro passível de consultas mais precisas. Ainda assim, havia um grande número de registros nos quais faltava algum tipo de dado e, suspeitou-se, faltavam teses e dissertações que eventualmente não constavam nas nossas fontes originais.

Teve início a segunda fase do trabalho: a divulgação e atualização dos resultados. Para facilitar o contato dos associados com o banco de dados, um sistema de cadastro e consulta foi criado no site da ABA (http://www.unicamp.br/aba). Por meio desse sistema, os usuários têm realizado pesquisas bibliográficas por qualquer chave (autor, programa, assunto, etnia...) e têm contribuído para a melhoria do acervo uma vez que o sistema de cadastro permite a inclusão e a correção de informações.

Infelizmente, ainda não é possível uma exposição mais profunda sobre a produção científica das últimas décadas mas parece oportuno fazer um breve resumo das informações disponíveis, mesmo que em caráter preliminar (posto que faltam muitos dados) e na forma de "curiosidades estatísticas".

Dimensionando o universo

· São 1.198 trabalhos cadastrados.

· Dentre os 1150 trabalhos que informam a titulação, 885 são de Mestrado; 245 de Doutorado; 20 são de outros níveis.

· O trabalho mais antigo registrado é a tese de doutorado defendida em 1945, na USP, por Lavinia Costa Raymond sob a orientação de Roger Bastide.

Alguns avanços na qualidade dos dados

· 725 trabalhos (60%) apresentam resumo _ o cadastro anterior tinha 24% de registros com esta informação.

· 950 trabalhos (79%) apresentam palavras-chaves _ no cadastro anterior, 38% dos registros continham esta informação.

Aperfeiçoamento e diversificação das pesquisas

Com a padronização é possível fazer consultas antes impossíveis. Por exemplo:

· Dentre 1192 trabalhos que trazem a informação sobre a instituição, 278 foram defendidos na USP, 268 no MN-UFRJ e 140 na Unicamp _ o que corresponde a aproximadamente 58% das defesas realizadas no país.

· Dentre 845 trabalhos que informam o nome do orientador, Gilberto Cardoso Alves Velho é o profissional mais citado: 38 vezes.

· Dentre 950 trabalhos que apresentam alguma palavra-chave, a expressão etnologia indígena aparece 110 vezes; estudos urbanos aparece 95 vezes; religião, 88 vezes; trabalho, 85; antropologia econômica, 63; gênero, 55; rito ou ritual, 47; afro-brasileiros, 31; campesinato, 21.

Sinais de transformação

Para um grupo de 148 trabalhos que apresentam a data de admissão ao programa de pós-graduação e a data de defesa, o tempo médio de permanência do aluno em cada curso é:

 
 
Doutorado
Mestrado
década de 70 sem informação 7 anos e 9 meses
década de 80 6 anos e 7 meses 5 anos e 7 meses
década de 90 5 anos e 6 meses 3 anos e 7 meses

 

Para um grupo de 452 trabalhos que apresentam o número de páginas, o número médio de páginas por tese/dissertação é:

 
 
Doutorado
Mestrado
década de 70
271
191
década de 80
432
242
década de 90
356
192

 

Obviamente esses dados mereceriam um tratamento estatístico mais elaborado e uma discussão mais aprofundada abrangendo fatores não quantitativos. Mas para que isso seja realmente possível e traga resultados realmente válidos, é preciso completar as lacunas remanescentes.

Chegamos então ao momento atual do trabalho e ao real objetivo deste texto. Mais que prestar contas do processo e divulgar o banco de dados, temos a intenção de mobilizar a todos para o esforço de atualização da base disponível. Apesar dos avanços, ainda há muito a fazer e precisamos de colaboração.

Aos Programas de Pós-Graduação em Antropologia enviamos relações de trabalhos defendidos, ano a ano, e solicitamos que ratifiquem os dados existentes e incluam os que faltam. Simultaneamente, estamos disponibilizando listas com os trabalhos por cada orientador cadastrado, e esperamos que os mesmos confirmem os dados dos trabalhos por eles orientados.

Esperamos também que os autores consultem as páginas da ABA na internet e verifiquem se seus trabalhos estão adequadamente registrados.

Para as atualizações, preferimos os meios digitais pois isso agiliza nosso trabalho de inclusão dos dados. Pela internet, basta preencher o formulário específico (o sistema é atualizado cerca de 2 vezes ao mês). As informações também podem ser mandadas em disquete para a secretaria da ABA em arquivo com formato texto (txt) ou outro qualquer compatível com Word para Windows.

Adicionalmente, estamos anexando a versão impressa do formulário para aqueles pouco acostumados ao uso do computador e da internet.

Até o próximo número do Boletim da ABA, onde pretendemos divulgar os resultados deste mutirão, esperamos dispor dos dados já tornados consistentes, pois, além das atualizações no banco de dados, pretendemos organizar um catálogo impresso que cubra toda a produção nacional até o ano de 1999.

 

 

 
Boletim da ABA, nº 31 - 1º Semestre de 1999
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