A Associação Brasileira de Antropologia vem manifestar sua profunda preocupação quanto aos destinos da democracia no país, e quanto à manutenção dos direitos fundamentais das pessoas inscritos no artigo 5 da Constituição Brasileira de 1988. É com profundo pesar que se faz ouvir neste momento político de eleições que definem os destinos do pais, narrativas e proposições verbais e em vídeos de incitação à violência, ao ódio e à discriminação racial e de gênero.
A ABA é associação científica criada em 1955, sem caráter político partidário ou religioso, que congrega mais de 2000 antropólogos e antropólogas que se dedicam à pesquisa, ao ensino e às atividades profissionais. A antropologia tem como vocação e profissão dedicar-se ao estudo científico das culturas e das sociedades, e assim de toda diversidade humana em seus contextos e ambientes.
O valor mais precioso de seu fazer é o reconhecimento da diversidade sócio cultural e da dignidade da pessoa humana, independente de raça, cultura, sociedade, classe, gênero, etnia, cosmologia ou religião. Neste momento de eleições circulam narrativas de caráter ao mesmo tempo homofóbico, misógino e racista e que anunciam o fim da liberdade de expressão. Defende-se a tortura, a licença de matar, as armas na mão.
É apresentado como aceitável o extermínio de toda a Rocinha, caso os bandidos não se entreguem. É apresentado como aceitável expulsar opositores políticos do solo brasileiro pela ameaça de fuzilamento. Tira-se o valor da dignidade humana de líder negro quilombola, ao atribuir-lhe peso em arrobas, e acusá-lo incapaz até de procriar. Enuncia-se que indígenas e quilombolas, não terão suas terras e territórios demarcados, sem sequer se fazer referência a estudos e relatórios que avaliem sua demanda.
A palavra de quem prega (ainda que verbalmente) expulsão ou fuzilamento de adversários políticos, extermínio de criminosos e cidadania desigual é uma ameaça à democracia e configura-se como invocação de um autoritarismo, ou pior, um fascismo. O valor da dignidade da pessoa humana foi conquistado internacionalmente como direito depois do horror da segunda guerra mundial.
A Associação Brasileira de Antropologia não pode se calar diante da ameaça à democracia e diante da ameaça à dignidade e igualdade da pessoa humana.
Brasília, 16 de outubro de 2018.
Presidência da ABA (Gestão 2017/2018) e Conselho Diretor da ABA
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