Através dessa Nota, a Associação Brasileira de Antropologia expressa apoio e solidariedade à pesquisadora Aline Passos de Jesus Santana, doutoranda em sociologia pela Universidade Federal do Sergipe. Aline foi denunciada pelos crimes de “intolerância religiosa” e “difamação” ao ter questionado publicamente manifestações feitas por outrem contra segmentos sociais minoritários, como mulheres, pessoas LGBTQIA+, negras e negros e indígenas.
Esclarecemos que é papel de cientistas sociais das áreas de antropologia, sociologia e ciência política atentar para manifestações que expressem preconceitos, falácias e violações a direitos humanos. Nesse sentido, é nosso dever desconstruir falácias sobre “infanticídio indígena” que são instrumentalizadas para ferir a autodeterminação dos povos indígenas, reiterando estereótipos negativos contra estas populações com dados falsos e usos conceituais equivocados de nossas disciplinas. Também é nossa responsabilidade acompanhar os processos de expressão de modos de existência diversos, no escopo da defesa da dignidade humana, repudiando toda e qualquer forma de discriminação e violência e enfrentando discursos que elegem determinado coletivo como “inimigos” a serem combatidos. Colocar-se, de maneira firme, diante de manifestações discriminatórias e falseadas não deveria ser interpretado como difamação e intolerância, mas como parte da promoção de um debate honesto, cientificamente embasado e orientado para a defesa dos direitos humanos. A busca por criminalizar quem participa do debate é indício de um modo de cerceamento persecutório que não condiz com nosso estado democrático de direito.
Sendo assim, reiteramos nossa solidariedade com Aline Passos de Jesus Santana e nosso compromisso com a liberdade de expressão, o respeito à diferença e a defesa das minorias. Por fim, solicitamos que as denúncias contra a pesquisadora sejam retiradas, ou arquivadas pelas instituições responsáveis.
Brasília, 19 de agosto de 2021.
Associação Brasileira de Antropologia (ABA)
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