Associação Brasileira de Antropologia (ABA), através de seu Comitê Migrações e Deslocamentos, vem, por meio desta nota, manifestar repúdio em relação à fala do Presidente da República que, durante participação em um podcast no dia 14 de outubro, fez explícita alusão à exploração sexual de adolescentes da comunidade venezuelana residente em São Sebastião (Brasília, DF).
De acordo com lideranças migrantes e entidades da sociedade civil que apoiam e atuam junto à comunidade venezuelana de São Sebastião, a fala e as expressões usadas pelo Presidente, que repercutiram amplamente, ofenderam as famílias das adolescentes e causaram medo e preocupação, afetando toda a comunidade, sobretudo mulheres e adolescentes.
A fala e a postura do Presidente incentivam atitudes xenófobas e colaboram com a estigmatização e a construção de estereótipos e preconceitos contra pessoas migrantes e refugiadas, principalmente mulheres, que chegam ao Brasil em busca de melhores condições de vida e trabalho.
Como tantos outros contingentes de migrantes que atualmente residem no Brasil, as famílias venezuelanas de São Sebastião esforçam-se cotidianamente para superar as dificuldades e os desafios para trabalhar e reconstruir suas vidas no país. Queremos, portanto, manifestar o nosso apoio às adolescentes, às famílias, às lideranças e a toda comunidade venezuelana no Brasil. Nesse sentido, queremos destacar a importância de membros da Defensoria Pública da União, da Defensoria Regional de Direitos Humanos e da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB estarem acompanhando essas famílias a fim de garantir a sua proteção e impedir novas violações de direitos. Por fim, apoiamos o pedido de retratação pública feito pela comunidade venezuelana de São Sebastião ao Presidente da República, demandando a manifestação das autoridades competentes sobre o caso.
Brasília, 21 de outubro de 2022.
Associação Brasileira de Antropologia – ABA e seu Comitê Migrações e Deslocamentos
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