Com imenso pesar comunicamos o falecimento de Patrícia Monte-Mor Alves de Morais na tarde desta quinta-feira, dia 27 de janeiro de 2022. Professora, antropóloga, produtora cultural e amiga estimada, Patrícia formou gerações de pessoas no campo da Antropologia Visual.
Patrícia Monte-Mor é considerada uma das pioneiras da Antropologia Audiovisual no Brasil, pois foi responsável pela organização da Primeira Mostra de Filme Etnográfico, realizada no Rio de Janeiro, em 1993, inspirando outros festivais em diferentes estados brasileiros. A partir da realização de seminários vinculados a esta primeira mostra organizou, juntamente com José Inácio Parente (Zé, como ela carinhosamente o chamava), o livro “Cinema e Antropologia: horizontes e caminhos da antropologia visual”. Além de evidenciar a trajetória conceitual sobre os usos das imagens pela ciência antropológica, este evento e seu desdobramento com a publicação do livro permitem que o aprendizado seja atualizado por quem se debruça nas questões trazidas no diálogo entre Antropologia e produção fílmica.
Patrícia Monte-Mor proporcionou a consolidação da Antropologia Visual no Brasil, pois oportunizou o diálogo e o contato com a produção fílmica de importantes cineastas e documentaristas que vieram ao Brasil participar das edições da Mostra de Filme Etnográfico. Muitas pessoas ainda trazem em suas memórias as lembranças da experiência de ter participado da Mostra Internacional do Filme Etnográfico. Um marco para a Antropologia audiovisual por contar com a presença de pessoas relevantes da antropologia visual, da produção de documentário e do filme etnográfico como: Jean Rouch, Eliane de Latour, Peter Loizos, David MacDougall, Marc-Henri Piault e Etienne Samain, Pierre Perrault. Em suas edições vieram personalidades importantes do cinema brasileiro, tais como: Eduardo Coutinho, João Moreira Sales, Vincent Carelli, Vladimir Carvalho; e realizadores indígenas: Divino Tserewahu, Patrícia Ferreira e Zezinho Yube.
O Prêmio Pierre Verger tem muito de sua marca, pois foi sua idealizadora e organizadora em suas primeiras versões. Participou como júri em diferentes oportunidades e, atualmente, fazia parte do comitê que o organiza este relevante prêmio da ABA.
Como docente no Curso de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro contribuiu na formação de muitos antropólogos e antropólogas. Com sua maneira sempre gentil e solidária, coordenava nesta universidade a Oficina de Ensino e Pesquisa em Ciências Sociais e o Núcleo de Antropologia e Imagem – NAI.
Apoiava as iniciativas de Grupos, Núcleos e Laboratórios de Antropologia, fomentando produções fílmicas e fotográficas, cursos e publicações que traziam na visualidade e sonoridade o modo de realizar experiências etnográficas. Quem não conhece a importante revista “Cadernos de Antropologia e Imagem”? Periódico publicado a partir de 1995, no qual Patrícia Monte-Mor atuou como sua coeditora. Artigos que são relevantes e que se tornaram leitura obrigatória para quem vivencia a Antropologia Visual constam nas diversas edições desta revista.
Recentemente, foi homenageada no III Festival do Filme Etnográfico do Pará, em novembro de 2021. Tal homenagem foi um momento de grande alegria, pois conheceu Belém, cidade que a acolheu de maneira afetuosa em sua primeira viagem em tempos de pandemia. Neste evento reuniu-se com antropólogos e antropólogas, cineastas e produtores culturais, planejando ações futuras que ficarão como fonte de inspiração para projetos vindouros.
A trajetória de Patrícia Monte-Mor será lembrada, também, na obra organizada pelo Laboratório de Memórias e das Práticas Cotidianas, onde estão reunidos relatos sobre antropólogos e antropólogas que contribuíram na consolidação da Antropologia Audiovisual no Brasil. Um reconhecimento pelo trabalho de quem tem na produção etnográfica com usos de imagens e sonoridades o maior legado para o fortalecimento desta ciência.
Sempre disposta a aprender, a trajetória de sua formação foi marcada pelo entusiasmo com aspectos visuais e sonoros de rituais religiosos em diferentes manifestações de diversos países. Envolvendo-se na realização de projetos que aliavam os usos da produção fotográfica e fílmica no âmbito da Antropologia, Patrícia Monte-Mor era uma eterna aprendiz, professora, realizadora e companheira.
Citando Gilberto Gil, a quem ela tinha grande admiração, manifestamos nossa gratidão a Patrícia Monte-Mor, pela doçura, pela alegria, pela maneira acolhedora como espalhou seu amor pela Antropologia e pela vida em todas as suas formas.
Patrícia, querida, muito obrigada!
“Tempo rei, ó, tempo rei, ó tempo rei.
Transformai as velhas formas do viver.
Ensinai ó pai o que ainda não sei.
Mãe Senhora do Perpétuo, socorrei”
Brasília, 28 de janeiro de 2022.
Associação Brasileira de Antropologia – ABA e seu Comitê de Antropologia Visual – CAV
Leia aqui o PDF da nota.