É com muita apreensão e profunda indignação que a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) recebeu a informação de que uma liderança do povo indígena Wajãpi do Amapá foi assassinada por um grupo de garimpeiros no último dia 22/07 nas imediações de sua própria aldeia, portanto, dentro da Terra Indígena Wajãpi. Nesse momento, dia 28/07, domingo à tarde, acionada pela FUNAI e pelos Wajãpi, a Polícia Federal entrou na terra indígena visando prender os garimpeiros que se encontram, segundo os Wajãpi, refugiados em locais de difícil acesso. Remetemos os leitores e leitoras deste comunicado à Nota de Esclarecimento escrita e publicada pelo Conselho das Aldeias Wajãpi – Apina – no dia de hoje (https://www.facebook.com/apina.conselho/), a qual esclarece a cronologia dos acontecimentos e do crime e informa a situação de tensão pela qual está passando aquela população indígena neste momento.
Assistimos estarrecidos a mais esta violação de direitos no território wajãpi, mas não esqueçamos de que esta é uma ameaça em outras terras indígenas, que revivem hoje o pesadelo da invasão de seus territórios por garimpeiros. É preciso enfatizar que a ABA, via sua Comissão de Assuntos Indígenas (CAI), bem como inúmeras organizações indígenas e indigenistas, vêm alertando há alguns meses a opinião pública de maneira geral e, em particular, o Governo Federal (responsável direto pela segurança da população indígena situada em território nacional), sobre a evidente escalada de ameaças e violências cometidas cotidianamente contra esses povos nos mais diversos cantos deste país. A ABA tem plena ciência de que a questão indígena no Brasil é assunto complexo e multifacetado, o que implica, portanto, no reconhecimento prévio de que certamente há diversos fatores envolvidos nos inúmeros atos de violência praticados contra povos indígenas somente neste ano de 2019. Entretanto, não há como dissociar a escalada desta violência das declarações de membros do atual Governo Federal, em particular, do próprio Presidente da República, que de maneira inadequada e infeliz, muitas vezes em tom de ironia e sarcasmo, insiste em desqualificar tanto os povos indígenas quanto aqueles e aquelas que com eles trabalham e defendem seus direitos. Resulta evidente que este tipo de narrativa preconceituosa e inapropriada de autoridades governamentais tem sido combustível eficaz para a execução de ações criminosas contra tais povos e seus territórios, por parte de segmentos da sociedade brasileira que, na expressão certeira do ex-presidente da FUNAI, general Franklimberg Ribeiro de Freitas, “salivam ódio aos indígenas”.
A Associação Brasileira de Antropologia, portanto, exige a rigorosa apuração do crime cometido contra a liderança indígena wajãpi e a prisão exemplar dos assassinos. Acima de tudo, a violação de direitos humanos que tal ato comporta, demanda urgência e clareza na ação do Estado Brasileiro, antes que tragédias como estas voltem a se repetir. Mas, com a mesma veemência, a ABA exige também um BASTA às declarações desqualificantes e, por diversas vezes, caluniosas de autoridades governamentais para com os povos indígenas e todos aqueles e aquelas não alinhados com seus próprios interesses e visão de mundo.
Brasília, 28 de julho de 2019.
Associação Brasileira de Antropologia – ABA e sua Comissão de Assuntos Indígenas
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