A Associação Brasileira de Antropologia (ABA), junto com sua Comissão de Assuntos Indígenas e seu Comitê de Antropólogxs Indígenas, e em colaboração com a Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges (ABIA), vem por meio desta informar à sociedade brasileira e em especial ao Ministério Público Federal (MPF), que ao longo da última semana chegaram até nós, de diferentes partes do país, relatos de associados informando que comunidades indígenas estão sendo alvo de estratégias digitais de desinformação e disseminação de notícias falsas para se recusarem a receber a vacina contra o novo coronavírus, responsável pela Covid-19. Algumas denúncias apontam também que representantes de ordens religiosas estão atuando para disseminar tais notícias falsas com o intuito de sabotar a vacinação.
Informam que estão sendo utilizadas as plataformas WhatsApp e Telegram para disseminar notícias falsas e afirmações absurdas sobre supostas intenções obscuras, conspirações ocultas e efeitos manipulativos de vontade; inclusive a ocorrência de mortes em série de indígenas e não indígenas em decorrência da vacinação. Enfim, uma tentativa deliberada, e ao que parece orquestrada, para confundir a população indígena por meio da transmissão de informações falsas, incorretas e desonestas. Uma ação que entendemos tratar-se de ato criminoso, pois coloca em risco vidas e de maneira deliberada. Além de criar e alimentar estados de pânico e desorientação individual e coletiva, que poderão desembocar em casos ou até em uma onda de suicídios.
Os relatos vieram do estado do Ceará, onde cerca de 600 indígenas Tremembé se recusaram a receber a vacina instigados por pastores. Situação semelhante foi descrita na Reserva Indígena Tuxá de Rodelas, às margens do Rio São Francisco (BA). Entre os Xavante circulou por whatsapp uma mensagem onde se afirmava que na Terra Indígena Areões 15 pessoas haviam morrido “de vacinação”. Na Região do Alto Rio Negro (AM), como entre a população indígena de Dourados, Panambi e Caarapó (MS), circulou um áudio por whatsapp onde era dito que junto com a vacina seria injetado um “chip líquido”, por meio do qual as pessoas seriam manipuladas. Até mesmo os agentes de saúde indígena no MS estariam se negando a receber a vacina. Do Acre também chegaram relatos da circulação de boatos e notícias falsas de óbitos relacionados com a vacina.
Diante do exposto, a ABA junto com sua Comissão de Assuntos Indígenas e seu Comitê de Comitê de Antropólogxs Indígenas, insta o Ministério Público Federal (MPF) para que, seguindo seu papel institucional, acione as Procuradorias da República nos estados da federação a fim de identificar os agentes e garantir a punição dos responsáveis por estes atos criminosos, que colocam em risco vidas indígenas de maneira deliberada. A investigação do que já aconteceu e a contenção do discurso falso, esta última mais urgente.
Brasília, 09 de fevereiro de 2021.
Associação Brasileira de Antropologia – ABA, sua Comissão de Assuntos Indígenas – CAI e seu Comitê de Antropólogxs Indígenas, e em colaboração com a Articulação Brasileira de Indígenas Antropóloges – ABIA
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