A Associação Brasileira de Antropologia (ABA) através do Comitê Quilombos e do Comitê de Antropólogas/os Negras/o, no dia internacional de combate ao fascismo e antissemitismo, vem a públicose manifestar em solidariedade ao ativista antirracista e tradutor sr. Mamadou Ba, nascido no Senegal, residente e com nacionalidade portuguesa há vários anos, por ocasião da acusação contra sua pessoa proferida em queixa crime aceite em tribunal português por um conhecido representante de gruponeonazista, que o acusa de ter sua honra ferida por este ativista. Entendemos que fazer parte de grupos que incitam a violência e proferem juízos racistas, em tudo assemelhados a práticas fascistas e nazistas, nãocondiz com o Estado democrático de Direito e não provê a nenhum cidadão a possibilidade de uso da palavra “honra”, ainda menos em tribunal. O sistema judiciário de um país em democracia deve espelhar a democracia vigente nesse mesmo país, e, por isso, não faz sentido que aceite tal queixa contra o sr. Mamadou Ba, cuja coragem para defender valores democráticos condizentes com direitos humanos e direitos de migrantes já foi exposta a público mais de uma vez.
É sabido que o reclamante, acusador de Mamadu Ba, praticou vários crimes que envolvem violências discursivas e em atos por ele praticados ou por seu grupo, das quais ele não faz nenhuma menção de se arrepender e já foi, inclusive, condenado por seu envolvimento em crimes que envolvem requintes de crueldade. A propagação do discurso e das práticas de ódio racial do tal reclamante, sr. Mário Machado, fere todas as premissas da convivência democrática. Mamadou Ba, neste caso, nada mais fez do que defender os valores democráticos e apontar o que, em democracia, deve ser apontado: toda e qualquer violência que atente contra a vida humana não pode fazer parte naturalizável da sociedade, quanto mais envolvendo incitação ao ódio racial. É indigno de uma república democrática que suas instituições jurídicas aceitem tal acusação contra o sr. Mamadou advindas de um propagador de ideias racistas porque isso significa apoiar atitudes e ideias antidemocráticas no seio mesmo das instituições que deveriam defender a Democracia. Tal representante de grupo neonazista já foi acusado e culpabilizado por vários crimes violentos como pode ser atestado em vídeos e em várias matérias da mídia e seu discurso segue propagando violência e não nenhuma honra. Entendemos como parte de seu discurso violento a partilha nas redes sociais de um vídeo montagem estando ele, o reclamante, com roupas de cowboy a disparar uma arma de fogo contra o sr. Mamadou Ba. Isso já basta para ameaçar uma vida humana e, como tal, os valores democráticos, já que o neonazi o faz utilizando plataformas que são de largo uso público para disseminar a ideia de um crime. No mundo contemporâneo marcado por migrações e deslocamentos, faz-se mister atentar para os valores da democracia expressos no conjunto de leis de cada pais democrático assim como em tratados de organismos internacionais que se ocupam de construir normas de convivência em harmonia para a diversidade étnica e cultural que devem compor as situações pós-coloniais.
Diante do exposto a Associação Brasileira de Antropologia (ABA) através do Comitê Quilombos e do Comitê de Antropólogas/os Negras/o, solidariza-se com o ativista sr. Mamadou Ba na defesa dos valores democráticos.
Brasília, 09 de novembro de 2022.
Associação Brasileira de Antropologia – ABA, seu Comitê Quilombos e seu Comitê de Antropólogas/os Negras/o
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