No momento em que a sociedade é, em grande medida, positivamente surpreendida com o tema da redação do Enem de 2022, que convida os jovens estudantes a refletirem sobre a valorização dos povos e comunidades tradicionais do Brasil, o Comitê de Trabalho sobre Povos Tradicionais, Meio Ambiente e Grandes Projetos, da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), vem a público repudiar ações de violência direcionadas a esses povos, movimentos sociais e seus parceiros. Nos últimos dias, após o resultado das eleições que ocorreram em 30 de outubro de 2022, as manifestações terroristas têm ratificado o contexto de intolerância e de ataques contra agentes sociais que historicamente lutaram em defesa da democracia, da justiça social, da equidade e da liberdade. O panorama é preocupante e exige do Estado medidas de responsabilização contra atos criminosos que ameaçam determinados grupos e os princípios basilares da dignidade humana e dos direitos coletivos. Situações recentes de violência ocorreram em:
– 01 de novembro de 2022: ameaças de morte e invasão do território indígena do Povo Tuxá Setsor Bragagá, no município de Buritizeiro, em Minas Gerais, por grileiros de terra, atos que vem também ocorrendo em outros territórios indígenas do Brasil;
– 12 de novembro de 2022: ataque com morte e feridos ao povo Yanomami, Feira do Produtor, Boa Vista – RR. Conforme a Associação Yanomami Hutukara, dois homens de bicicleta passaram pelo grupo indígena que estava na feira atirando, deixando uma mulher morta e um homem ferido, que se encontra hospitalizado;
– 12 de novembro de 2022: ameaça de morte contra Dom Vicente de Paula Ferreira, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte/Minas Gerais e Secretário Geral da Comissão de Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Após a celebração de uma missa, Dom Vicente foi ameaçado de morte por um grupo de pessoas no município de Moeda – MG, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Conforme a Comissão Pastoral da Terra de Minas Gerais (CPT-MG), entre os agressores havia um homem que empunhava uma arma de fogo e proferia graves ameaças contra a integridade física de Dom Vicente, que tem sido um dos grandes defensores da democracia brasileira e atuante na defesa intransigente dos atingidos pela mineração;
– 13 de novembro de 2022: Centro de Formação Paulo Freire do MST, em Caruaru, no Estado de Pernambuco. O Centro de Formação foi literalmente pichado com a insígnia nazista, seguida da palavra “mito”.
Estas são ocorrências que dizem respeito a atos terroristas dirigidos a povos tradicionais e seus defensores que chegaram ao conhecimento do Comitê de Trabalho sobre Povos Tradicionais, Meio Ambiente e Grandes Projetos, da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) nos últimos três dias. Solidarizamo-nos com o povo indígena Tuxá Setsor Bragagá, com o povo indígena Yanomami, com o Centro de Formação Paulo Freire do MST, com Dom Vicente de Paula Ferreira e com todos que vêm sendo vítimas de atos de terror em todo o país. Repudiamos estes atos criminosos e solicitamos às autoridades competentes que tomem providências no sentindo de investigar e punir devidamente os culpados.
Brasília-DF, 15 de novembro de 2022.
Associação Brasileira de Antropologia e seu Comitê Povos Tradicionais, Meio Ambiente e Grandes Projetos (PTMAGP – ABA)
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