Entre os dias 11 e 12 de Novembro de 2015 no Bairro Curió na cidade de Fortaleza – CE foram vitimados onze adolescentes, jovens e adultos, brancos e negros. Pelo caso, foram acusados 34 policiais militares. Todas as mortes foram executadas entre 0h20min e 3h57min, do dia 12/11/2015 e vitimaram: Álef Souza Cavalcante, 17 anos; Antônio Alisson Inácio Cardoso, 17 anos; Jardel Lima dos Santos, 17 anos; Marcelo da Silva Mendes, 17 anos; Marcelo da Silva Pereira, 17 anos; Patrício João Pinho Leite, 17 anos; Renayson Girão da Silva, 17 anos; Pedro Alcântara Barroso, 18 anos; Jandson Alexandre de Sousa, 19 anos; Valmir Ferreira da Conceição, 37 anos e Francisco Enildo Pereira Chagas, 41 anos.
As investigações por agentes públicos apontaram que, na madrugada dos crimes, policiais militares agiram em represália à morte de um outro policial que havia sido morto às vésperas da Chacina. Cabe enfatizar que nenhuma das vítimas da chacina teve relação com a morte do policial. Os atos de brutalidade policial (execuções, ameaças e intimidações) foram praticados de forma indiscriminada, contra pessoas aleatórias, resultando em vítimas fatais e muitos sobreviventes como os familiares, amigos, colegas de escola e de futebol e toda a comunidade do Curió e da cidade de Fortaleza. Além disso, os autos da ação penal indicam que houve condutas de omissão de policiais em prestar socorro imediato às vítimas.
Destaca-se, que, entre os sobreviventes e os familiares das vítimas, há muitas sequelas que perduram até hoje, tanto lesões físicas, como adoecimentos psíquicos e o aprofundamento de vulnerabilidades socioeconômicas. No Ceará, por exemplo, 1.229 mil pessoas foram mortas durante intervenções policiais entre 2013 e 2022, de acordo com dados do governo estadual.
Depois de sete anos e meio, as mães, companheiras, irmãs, filhas e amigas das onze vítimas da Chacina do Curió, estarão frente a frente com os executores de seus filhos, maridos, irmãos e amigos. Está marcado para o dia 20 de junho o primeiro julgamento dos policiais acusados da Chacina do Curió. Esse será o maior julgamento do ano no país e o que tem o maior número de militares no banco dos réus desde o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 2006, no Pará. Por isso, as Mães do Curió clamam por memória, verdade e justiça em face de seus familiares.
A existência e recorrência de diversas práticas de violência de Estado motiva a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), através de sua Comissão de Direitos Humanos e Comitê de Antropólogas/os Negras/os, a vir a público, não apenas para denunciar mais uma vez os fatos ocorridos, mas também para endossar a luta dos familiares por memória e justiça, diante do júri popular e das autoridades responsáveis.
Brasília, 23 de junho de 2023.
Associação Brasileira de Antropologia – ABA; sua Comissão de Direitos Humanos; e seu Comitê de Antropólogas/os Negras/os
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